10/01/2017

Sou exatamente assim - E daí?

  Hoje teremos duas histórias com assuntos diferentes, mas somente o conteúdo mesmo, porque a superação é semelhante nas duas.

  Essa é a Simone, ela ficou com depressão depois de uma série de perdas de entes queridos. Acredito que para algumas pessoas, quem possui depressão é uma pessoa desequilibrada, só vive chorando, tomando remédios e o pior acham que é "Frescura".
 Mas não é assim, mesmo sendo uma doença séria, cada pessoa reage de uma forma, cada um tem suas dificuldades e superação.


  "Sempre me considerei uma pessoa alegre, com momentos de melancolia sim, mas nunca tinha vivido isso... Parei no consultório de um Psiquiatra, desesperada, achando que tinha enlouquecido... Foi então que tudo começou... Recebi o diagnóstico e o tratamento para a Depressão, como sou Professora de Educação Infantil, trabalhar com crianças, e se adaptar aos remédios, foi um desafio. Recebia o amor dos meus alunos e da minha família, mas também recebia os olhares desconfiados de algumas colegas... Tive que lidar com o meu preconceito (que achava que depressão era frescura) e com o preconceito dos outros! Custei a aceitar minha condição, assim que melhorava um pouco, parava com a medicação por conta própria, e logo vivia um rebote horrível! Tinha que recomeçar tudo de novo! Hoje, passados três anos do início da minha caminhada, consigo entender que o que acontece comigo é algo que posso conviver...tomando a medicação certa e corretamente, meu cérebro fica equilibrado e eu consigo viver normalmente...Tenho meus momentos de melancolia e passei a aceitar que sou assim...que sou muito grata por ter minha família e meu trabalho (que me proporcionam momentos muito felizes!) Entendo também que sou sensível ao extremo, e por causa disso, estou aprendendo a cada dia, que a opinião do outro e seus sentimentos em relação à minha pessoa, não definem quem eu sou de verdade!

O Livro "Os Quatro Compromissos" contribuiu muito nesse meu crescimento... Sei que um dia os remédios não serão mais necessários, que umas dia meu corpo voltará à produzir o que no momento me falta...Sei também que não estou sozinha com esse diagnóstico...muitas pessoas, como eu, se esforçam todos os dias para levantar e ser uma pessoa melhor... Aceito meus sentimentos, respeito à depressão, mas vou sempre procurar me fazer e fazer os que estão à minha volta felizes... ficar deitada em minha cama não vai ajudar...levantar a cabeça e enfrentar a vida sim! Procuro não pensar na dor na alma, que às vezes insiste em me derrubar, procuro me concentrar na gratidão do dia que recebi... Não sou assim... Estou assim...Por quanto tempo? Não sei a resposta, mas aceito e sigo em frente...Porque pra frente é que se anda..."

  Essa é a Ana Célia, ela sofreu preconceito por ser negra.


    "Bem, nunca havia me ligado muito nessa questão de preconceito, mesmo tendo vários apelidos quando criança por exemplo: ” negra do pajé”, “ macaca”, “neguinha da tapioca...
Não ligava muito, respondia com algum atrevimento ou deixava quieto, e assim cresci numa área de risco, onde as dificuldades sócio econômicas são muito precárias, e as oportunidades de sair dela menores ainda. Por conta disso comecei a trabalhar cedo aos 13 anos como babá, nos finais de semana e férias por que não abria mão de continuar meus estudos, e assim deu certo até meus 19 anos, como queria continuar estudando não dava mais para continuar como babá, pois, além disso, já dava aulas desde os 15 anos numa escolinha pequena perto de casa, Arranjei um emprego numa loja de festas, como vendedora, porém eu era a única funcionária lá então eu tinha que tomar conta  de tudo, da limpeza ao  orçamento das mesas temáticas e do espaço, para estava ótimo, só em trabalhar atendendo o publico era uma maravilha...

  Porém, a loja era vizinha a casa dos pais da patroa,  e a mesma funcionava como ponto de apoio do povo que vinha do interior, já que o pai da mesma era prefeito num munícipio aqui do Ceará, assim a casa do lado estava sempre cheia de homens que vinham a trabalho, para hospitais etc., e alguns eram bem desagradáveis, pois davam cantadas e faziam piadinhas desagradáveis e sem graça, mas eu sempre me defendia bem da investidas e brincadeiras de mal gosto, e também cheguei a denunciar a minha patroa que repreendeu os engraçadinhos e ameaçou de proibir a hospedagem dos mesmos na “casa grande” como chamavam.
  
  Esse problema foi fácil resolver, no entanto fiquei dois anos nesse emprego, sem carteira assinada, mas este era de longe o maior problema, como disse no inicio, não ligava para preconceito, até conhecer a mãe da patroa, uma senhora elegante e mal educada, arrotava avareza, mas vestia branco o tempo todo e ia as missas e orações com devoção, mas seu coração estava longe de promover a paz que sua vestimenta inspirava.

  Esta “pobre senhora rica” era a personificação do preconceito, e quando estava em Fortaleza, fazia questão de me chamar na casa para fazer serviços domésticos e me humilhar, a felicidade é que ela não vinha com frequência, mas quando vinha valia pelo ano todo, pois além de fazer as tarefas na casa tinha que ouvir seus insultos, tipo: “Negro e pobre é a bos* da sociedade”, valem nada, só servem pra roubar a gente”, ficava horas no telefone falando essas coisas não sei com quem. Eu não tinha coragem de enfrentar e muito menos contar a patroa.
  E mesmo sabendo que isso era errado, e acho que já era crime, isso aconteceu quando eu tinha dos 20 aos 22 anos, eu não tinha coragem, pois tinha a deia de que a corda só quebra do lado mais fraco e esse lado era eu.
  
    Aguentei dois anos e num dia em que estávamos organizando um espaço para  o aniversário dessa senhora e do neto dela, com a mesma presente foi a gota d’água, um dia inteiro de xingamentos e tortura psicológica, eu decidi que não voltaria mais e como já era um sábado -19 de dezembro, próximo ao dia do pagamento do mês, pedi a patroa para adiantar meu salário, não tive coragem de falar que não voltaria na segunda, ela concordou e ao ir em casa já a tardinha traria na volta, eu fiquei terminando o serviço e ouvindo os absurdos daquela senhora, e não aguentei por muito tempo, sai escondida, incentivada pela outra funcionária da casa, que também mal intencionada, me convenceu a sair sem avisar nada.
  Isso aconteceu por que, apesar de eu saber que preconceito era crime, eu não tinha o conhecimento que tenho hoje, a consciência dos meus direitos, do medo que eu tinha de acabar pagando por algo que não faria jamais.
  A melhor coisa que fiz foi voltar a estudar mesmo depois dos filhos já grandinhos e de não ser mais uma mocinha, pois apesar de sempre me aceitar como negra que sou, tinha alguns problemas com cabelo, maquiagem, cor de roupas, essas bobagens e o mais grave, não tinha coragem de enfrentar as pessoas para me defender, hoje é bem diferente, continuei muito dócil e amigável, porém não tolero mais nenhum tipo de preconceito e acredite, não foi fácil, mas vale muito a pena cada nova conquista."

  Acho que não tenho muito o que falar sobre essas histórias, elas já falaram tudo.
Amanhã tem uma nova história! 


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4 comentários:

  1. Sobre a primeira história: Eu já tive depressão, hoje estou bem, obrigada. Muitas pessoas me diziam que aquilo era frescura e isso me afundava cada vez mais sem uma tristeza sem sim.
    Sobre a segunda história: Lamento muito por saber que ainda existem pessoas que tem que passar por isso. Sou branca, bem branca, e isso não impede que eu também sofra preconceito. Já sofri muito por ser muito branca e não parecer brasileira. Serio... Isso também magoa.
    Beijos

    Vidas em Preto e Branco

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    1. Que bom que superou essa fase difícil... A sociedade é mesmo complicada, se somos negros, reclamam, se somos brancos demais, não está bom. Isso magoa demais mesmo, espero que um dia possamos superar esses estereótipos e poder ser como quisermos. Obrigado pelo comentário. <3

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  2. Qualquer tipo de preconceito magoa e entristece quem sofre. Mas o importante é superarmos e seguirmos adiante e não aceitar passivamente..

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    1. Oi Ana, Sua história inspira. Obrigado por compartilha ela com a gente. <3

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